Botswana, Foto T.Abritta, 2008

quinta-feira, 4 de agosto de 2016

Olhar Animal



          "Dizem por aí, mas não tenho certeza, que meu sorriso fica mais feliz quando te vejo, dizem também que meus olhos brilham, dizem também que é amor, mas isso sim é certeza.”
Machado de Assis

          Assim como o olhar humano, em Fotografia de Natureza é fundamental interpretar o olhar animal, conhecer seu comportamento e estado de espírito manifestado através de seus ruídos e movimentos.  Como exemplo, nesta primeira crônica desta série, apresentamos o episódio registrado pela imagem abaixo, que exemplifica também a “Fotografia do Movimento”.
          Era um fim de tarde maravilhoso nas margens de um lago na Botswana.  O sol caía no horizonte e hipopótamos se banhavam ao longe.  Paramos o jipe, armamos a mesa do piquenique, mas o protesto ao longe interrompeu tudo.  Ali era a área de pastagem (*) de um hipopótamo, que veio furioso, abrindo a boca, soltando seus grunhidos, sacudindo o traseiro de modo a espalhar fezes para todos os lados.  Eram os sinais máximos de seu desagrado.
          Todos correram para o jipe, mas permaneci, esperando uma maior aproximação do animal, pois estava longe e escuro para a foto.
          Por azar, uma elefanta, acompanhada de seu filhote, surgiu a uns dez metros caminhando vagarosamente para o lago.  Nestas situações devemos ficar imóveis, abaixar a cabeça de modo a não demonstrar agressividade e esperar sem apontar nenhuma câmera fotográfica.
          Foi rápido, mas pareceu uma eternidade.  E o hipopótamo chegando e nada de abrir a boca.  O pessoal no jipe me agarrando pela camisa, prontos para o resgate. 
          Abaixei a cabeça.  Com a câmara na altura da cintura, focalizava o hipopótamo através do visor aberto e girado para cima.
          Funcionou.  O hipopótamo me olhou firme, abaixou a cabeça e placidamente iniciou a sua pastagem de final do dia.
          Com a pouca luz, a imagem foi tirada com um longo tempo de exposição, de modo que apenas estes dois momentos ficaram bem nítidos.  Observe os detalhes da imagem do olho esquerdo duplicada.

(*) Os hipopótamos durante o dia permanecem na água, pois sua pele é muito sensível ao sol.  Quando se afastam muito de lagos e rios e são surpreendidos pelo amanhecer, produzem um óleo vermelho que escorre pelo corpo como proteção.


Botswana.  Foto T.Abritta, 2008.



2 comentários:

  1. Fantástica África selvagem. Aventura deslumbrante.

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  2. Obrigado, Sílvio. Estou como São Francisco de Assis, que preferia (num gesto simbólico e de protesto) falar (no caso escrever sobre) com os animais do que com os homens.

    Mas são pequenos textos que depois vou reunir em um livro - digital pelo custo das imagens, caso impresso.

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