Botswana, Foto T.Abritta, 2008

quarta-feira, 21 de setembro de 2016

Escrevendo Errado em Páginas Certas.


A Constituição dos Estados Unidos, por exemplo, tem apenas os princípios fundamentais de uma Democracia escritos em  uma única página.  A brasileira, mistura estes princípios fundamentais com os secundários.  Por exemplo, a transparência, igualdade de direitos, liberdade de opinião e outros, deveriam, quando ameaçados, ser mais importantes do que o foro privilegiado, que existe unicamente para garantir estes princípios fundamentais.  Mas o STF não pensa assim na sua interpretação constitucional.  Sempre atua como uma corte de defesa do "sistema" e do Poder, e não para garantir o interesse social.  Assim, simplesmente, nos últimos 20 anos deixaram prescrever uns 500 processos e atualmente já acumulam quase 200 outros na vergonhosa fila da prescrição.
Na prática esta Corte funciona apenas como uma repartição para carimbar certificados de ficha limpa para corruptos.

Como curiosidade, em 2014 uma das capas da revista Rolling Stone apresentou a atriz Julia Louis-Dreyfus mostrando a Constituição dos Estados Unidos escrita em suas costas (ver figuras e link abaixo).
Se fosse a Constituição da República Federativa do Brasil, nem que escrevesse-mos também em seu "derrière", descendo pelas pernas, isto seria possível, mesmo não faltando escribas para esta árdua  tarefa.






terça-feira, 20 de setembro de 2016

Colossos de Menon


          Na Grécia Clássica os mortos eram sepultados de uma forma ritual, criando-se uma réplica do falecido na forma de um corpo insubstancial chamado Êidolon.  Para aqueles que morriam longe da pátria, dos parentes ou quando o corpo não era encontrado, construía-se um túmulo vazio com uma estátua ao lado, o Kolossós.  Este Colosso, como o próprio morto, é um duplo do vivo, atraindo a Psiquwe vagante transformando o morto em Êidolon.


Figura 1 - Estátuas representando Amenófis III (1417-1379 AC) - Tebas, Egito.  Os gregos da antiguidade clássica diziam ser um Kolossós do mítico rei Menon, desaparecido na Guerra de Troia e até hoje estes gigantes são conhecidas como Colossos de Menon. Foto T.Abritta, 1990.

          Estas estátuas foram descritas por Heródoto, Estrabão e muitos outros ilustres viajantes.  Na antiguidade, uma das estátuas emitia um triste lamento ao amanhecer e ao anoitecer (devido provavelmente às variações de temperatura em uma das fendas causadas pelos terremotos).  Mas tal lamento foi atribuído a uma saudação à deusa Aurora – a deusa dos dedos rosa, que abre a cortina do céu no amanhecer –, mãe de Menon, que obteve a dádiva de escutar a voz de seu filho, Rei do Egito, desaparecido na guerra de Troia.
          Depois de obras de restauração feitas pelo Imperador Romano Septimo Severo (193-211 DC.), os gemidos nunca mais foram escutados.

          Em certo sentido a fotografia funciona como um duplo do fotografado, um singelo Kolossós em papel.  Por outro lado, a sua deterioração física lembra-nos não da transitoriedade da vida como da fragilidade e constante transformação do mundo material.  Uma foto antiga, mesmo deteriorada e de baixa qualidade em sua concepção, sempre será considerada uma preciosidade ou obra de arte, pois é vista como um registro arqueológico, uma ruína que sobreviveu a uma deterioração temporal.  Esta ponte entre História, Arqueologia e Fotografia fica mais clara comparando-se a visão mais técnica de um arqueólogo com o olhar poético de uma escritora.

“Os resultados mais correntes da conduta humana, os dados arqueológicos mais vulgares, podem chamar-se artefatos, coisas feitas ou desfeitas por uma deliberada ação humana”, Gordon Childe.

“As fotos são, é claro, artefatos. Mas seu apelo reside em também parecerem, em um mundo atulhado de relíquias fotográficas, ter o status de objetos encontrados – lascas fortuitas do mundo, Susan Sontag.