Botswana, Foto T.Abritta, 2008

segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Metáforas: a Vida e o Firmamento

O CÃO

Mauro Mota (*)

É um cão negro. É talvez o próprio Cão
assombrado e fazendo assombração.
Estraçalha o silêncio com seus uivos.
A espada ígnea do olhar na escuridão

separa a noite, abre um canal no escuro.
Cão da Constelação do Grande Cão,
tombado no quintal, espreita o pulo:
duendes, fantasmas de ladrão no muro.

O latido ancestral liberta a fome
de tempo, e o cão, presa do faro, come
o medo e a treva. Agita-se, devora

sua ração de cor.
Pois, louco e uivante,
lambe os pontos cardeais, morde o levante
e bebe o sangue matinal da aurora.

Aqui, Mauro Mota faz uma metáfora com a Constelação do Cão Maior e seu vagar noturno, surgindo no leste do horizonte matinal, tal um renascer e “morrendo” a oeste no entardecer. O céu descrito neste poema, pode ser visto na região de Recife, terra do poeta, entre o final de junho e início de julho, quando esta constelação surge por volta das cinco horas da madrugada e se põe entre cinco e seis horas da tarde, portanto, de acordo com a imagística do poema.

Nesta constelação está a estrela mais brilhante de todos os céus, Sírius, conhecida pelos antigos egípcios como Sótis, o astro que após longo desaparecimento surge brilhante no horizonte do Nilo, marcando o início do ano para este povo.
Para os antigos gregos, Cão Maior representa um dos cães que seguiam Órion, O Caçador.

(*) 2011, ano do centenário de nascimento de Mauro Mota.