Botswana, Foto T.Abritta, 2008

sábado, 13 de junho de 2015

Nos Domínios do Barão


         O município fluminense de Rio das Flores é uma espécie de Vale do Loire brasileiro, tal a quantidade de casarões centenários, antigas sedes de fazendas cafeeiras.  Muitos estão restaurados com esmero, onde o visitante pode imaginar a riqueza que o café produziu e a pobreza que deixou, devido à irresponsabilidade ambiental na conservação dos solos
          Nestas fazendas, admiramos não os jardins de Glaziou, as pinturas do artista catalão Villaronga, como podemos também estudar a História da Ciência e Tecnologia pouco explorada pelos especialistasEm Rio das Flores viveu Santos Dumont na infância, onde despertou suas habilidades técnicas com observações dos sistemas hidráulicos e mecânicos usados no maquinário de beneficiamento, ensacagem e transporte dos grãos de café.  Dezenas de rodas d’água, moinhos, calhas gigantescas e dispositivos diversos. 
          Na região foi também introduzida pela primeira vez no Brasil, em 1854, a iluminação a gás – na época ainda inexistente nos palácios imperiais do Rio de Janeiro –, por Domingos Custódio Guimarães, primeiro Barão e depois Visconde do Rio Preto, que instalou um sistema de iluminação a gás na fazenda Paraíso (*).
          Aqui, maiores surpresas revelam-se quando atravessamos uma pequena ponte, entrando em Minas GeraisPrimeiro, visitamos o vilarejo de São José das Três Ilhas.  Na única rua, casario histórico em excelente estado de conservação, emoldurando gigantesca igreja de pedra totalmente restaurada.  Depois, entramos no outrora domínio do Barão das Três Ilhas, para sermos recebidos por seu bisneto, na fazenda Boa Esperança, que continua sobrevivendo com a dignidade que merece este inigualável patrimônio
          A caminho para esta fazenda nos perdemos nas estradas de terra.  Como da primeira vez em que aqui estivemos, surgiu do nada, como passe de mágica, um imenso carro de boi e o condutor nos deu as informações necessárias.  Concluí que era lugar encantado, rasguei mapas e anotações, simplesmente escrevendo:

          “Minas sempre guarda mistérios que surpreendem. Para chegar aos domínios do Barão, saia da estrada principal, que a esta altura é secundária, atravesse uma ponte, pegue a estradinha de terra e, ao encontrar um carro de boi, pergunte ao condutor, e ele lhe dará a chave da descoberta. Caso não o veja, passe outras vezes, vale à pena. Por hora, isto posso dizer”.

          Ao chegarmos a Boa Esperança, fomos recebidos pelo proprietário, Sr. Maurício Monteiro de Barros Pinto, fazendo ele questão que entrássemos pela porta principal, quemuito não era aberta.  Passamos pela sala de recepção.  Pendurei o boné na chapeleira, como faziam os visitantes ilustres da corte, com seus chapéus e bengalas.  Subimos pequena escada.  Cada degrau, cada passo rangia nos saudando. 
Foram horas nos salões, capela, quartos e tulha.  Examinamos dezenas de objetos, livros, documentos, mapas e fotografias. 
O momento mais emocionante foi quando o Sr. Mauricio acendeu uma luminária elétrica, com duas lâmpadas centenárias, de fabricação da General Electric – o acervo da  fazenda tinha também outra sobressalente ainda não usada.  Tratava-se de lâmpadas elétricas de filamento de fita de carbono, inventadas por Thomas Edson em 1880 e industrializadas pouco tempo depois


Lâmpada elétrica de filamento de fita de carbono.  Fazenda Boa Esperança, 
Belmiro Braga, MG.  Foto T. Abritta, 2005.

Assim como o Visconde do Rio Preto introduziu a iluminação a gás no Brasil, o Barão das Três Ilhas foi, provavelmente, quem introduziu as lâmpadas elétricas em nosso país, que as características dos exemplares existentes nesta fazenda mostram lâmpadas das primeiras gerações industrializadas (ver Figura). 
          Na despedida dos domínios do Barão nos foi oferecido um café imperial, com queijo de Minas, broa de milho e toda a sorte de iguarias da roça, inclusive manteiga de verdade.  A louça usada era fina porcelana inglesa, que magicamente sobrevivia, assim como toda a fazenda
Outro dia espero voltar, contando com as orientações e magia daquele carro de boi
          E aqui fica esta pequena colaboração para a nossa História, tão perdida, esquecida e chamando-nos para se exibir.

Nota: (*) Originalmente a iluminação das fazendas era feita com lampiões alimentados com óleo de mamonaCom a novidade da iluminação a gás, tubulações eram instaladas em todos os cômodos dos casarões, ligando a central de produção às luminárias distribuídas pelas salas.  Na produção do gás eram usadas pedras de carbureto – carbeto de cálcioque em contato com a água produzem o gás acetileno que é queimado.  Este mesmo sistema ainda é usado nas lanternas de espeleólogos.



sábado, 6 de junho de 2015

Pessoas

...são assim

se decompõem
traços formas sombras

renascem
cores amores ardores

somos assim
assim nos entendam

em confortável acolhimento
o tom do acontecer

para o silêncio das cores de Miró entender.



Quase Viva

                                          Foto de autoria desconhecida

Não fale nada
Apenas olhe

Não explico
Sou assim

Me entenda
Sou apenas forma

Não tenho alma
Sou apenas ideia

Me afague
Seja você em mim

Acaricie veios pedregosos
Sinta a maciez

Sou eterna
Sou pedra

Quase viva