Botswana, Foto T.Abritta, 2008

sexta-feira, 25 de agosto de 2017

Estúdios Fotográficos nas Gerais


O Fotógrafo mineiro Francisco Augusto Alkmin (1886-1978), conhecido por Chichico Alkmin, montou na cidade de Diamantina, no Vale do Jequitinhonha, Minas Gerais, o primeiro estúdio fotográfico desta região.
O estúdio funcionava no porão de sua casa no Beco João Pinto.  Os cenários fotográficos eram montados com requinte, atapetados e decorados com painéis pintados pelo próprio fotógrafo que trabalhava com uma câmara de fole usando negativos de vidro com 13 x 18 cm.
Foi uma grande satisfação receber a notícia de que sua família preservou o rico acervo deste profissional, que foi acumulado durante vários anos, doando-o ao Instituto Moreira Salles no Rio de Janeiro. Este Instituto, que é uma Instituição de excelência em preservação e pesquisa fotográfica, realizará um trabalho completo de classificação e digitalização das centenas de negativos em frágeis placas de vidro, colocando este material ao alcance de todos os pesquisadores interessados.
Outra notícia sobre estúdios fotográficos em Diamantina, foi a exposição de Assis Horta, hoje com 99 anos, que por vários dias mostrou no Centro Cultural BNDES, em 2007, no Rio de Janeiro, fotos, câmeras, materiais de laboratório e equipamentos de estúdio deste profissional. 
O trabalho de Assis Horta foi também impulsionado pela necessidade dos trabalhadores obterem um retrato 3x4 cm datado, conforme normas da legislação trabalhista implantada na época.
Estes fatos me remeteram à fotografia que ilustra a capa do meu último livro intitulado Jequitinhonha (ver Figs. 1, 2 e 3).
A fotografia usada na capa do livro, tirada em 1945, foi provavelmente feita no estúdio de um destes fotógrafos.
Observando o fundo dos painéis que decoravam os cenários das fotos, identificamos facilmente que a foto da capa de Jequitinhonha foi feita por Assis Horta. 

Forte emoção neste encontro fotográfico com um “personagem” vindo dos tempos desta grande jornada por Jequitinhonha.


Figura 1 - Capa do livro Jequitinhonha.


Figura 2 - Fotografia usada na capa do livro Jequitinhonha. 
Diamantina, 1945.  Acervo Teócrito Abritta.


Figura 3 - Foto em Estúdio por Assis Horta.





domingo, 20 de agosto de 2017

O Corrupião


                    Augusto dos Anjos

Escaveirado corrupião idiota,
Olha a atmosfera livre, o amplo éter belo,
E a alga criptógama e a úsnea e o cogumelo,
Que do fundo do chão todo ano brota!

Mas a ânsia de alto voar, de à antiga rota
Voar, não tens mais! E pois, preto e amarelo,
Pões-te a assobiar, bruto, sem cerebelo
A gargalhada da ultima derrota!

A gaiola aboliu sua vontade. 
Tu nunca mais verás a liberdade!...
Ah! Tu somente ainda és igual a mim.

Continua a comer teu milho alpiste.
Foi este mundo que me fez tão triste,
Foi a gaiola que te pôs assim!


Papagaios cativos no banheiro de um sórdido bar.  
Santa Cruz de Cabrália, Porto Seguro, BA.  Foto T. Abritta, 2009


quarta-feira, 16 de agosto de 2017

A dor e o papelório


          Muitos não entenderão a relação entre dor e papelório.  Nas primeiras páginas do conto Memória Intrusa, publicado em Os Meus Papéis, metaforicamente falo desta relação:

A pilha de livros, recortes de jornais, artigos e anotações avoluma-se sobre a mesa.  Já começa a “escorrer” e derramar-se sobre o chão como um rio de papéis.  Naquele canto, livros de Neruda – páginas e mais páginas marcadas com pedaços de papel.  Adiante, obras de Saramago, ensaios de Susan Sontag e várias edições do conto A Galinha Cega, de João Alphonsus.  No sofá, pastas com compilações do poema O Guesa e até mapas, bem como obras sobre Geografia e até fotografias de viagem. 
          Muita confusão.  Tal peregrino de verdades duvidosas, procurava um rumo entre tanto papelório...

          No decorrer de nossas vidas acumulamos tantos objetos, papéis, livros etc.  Muitos sem interesse geral.  São mais peças sentimentais, referências de nossa memória. 
          Nos últimos anos transformei grande parte deste espólio em crônicas publicadas em livros e jornais.  Mas o resíduo, tanto digital, como físico ainda é grande.  Aos poucos vou rasgando papéis, que mesmo sabendo da sua inutilidade, causam grande dor.  Posso me despedir de apenas  alguns por dia
          Ontem a dor foi maior, pois resolvi pedir o cancelamento do e-mail do meu antigo trabalho que estava inativo há muito tempo. 
          Examinei a caixa de mensagens, pessoas há tanto tempo desaparecidas lá estavam, com suas palavras, vivas como nunca. 
          Não resisti e copiei algumas das mensagens.  Abaixo reproduzo duas delas.  Uma gratificante e outra mostrando a indignidade humana:

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