Botswana, Foto T.Abritta, 2008

sábado, 21 de junho de 2014

Ode à Cachaça

Em Minas tem fuxico pra abrigar
casa geminada para o vento frio cortar.

Tem também cachaça a esquentar
sempre a variar, encontradas ao milhar.

Quando a cachaça é Lua, pode ser Nova
Cheia ou Meia Lua.

Quando é Serra, é Morena, Rochinha, Monte Alto.
Montanhosa, mas sempre Cristalina.

Seu calor é o esplendor da alma feminina
Minha Deusa, Magnífica, Boazinha.

Pura ternura, Beija Flor, Furadinha...Chora Rita.
No reflexo vítreo, desnuda-se Lourinha...Clarinha.

Envelhecida, é valorosa, Morada Velha,
Vila Velha, Vereda Tropical.

Muita falação, pouca ação.
Paremo a prosa, bebemo a danada da cachaça!



Cachaçaria, Visconde de Mauá.  Foto T. Abritta, 2010.

A Ponte de Arame

Não passa pastor
nem alma penada.

Não passa ministro
prefeito, nem vereador.

Passa apenas o Povo sofredor
seu cachorro, sua dor.

Retrato da miséria social
desvios de verba, desgoverno.

Poetas,
Românticos ou Modernistas
Barrocos ou Simbolistas
venham cantar esta singela obra

maravilha da arquitetura mundial.
(Solução do Povo nacional).



A Ponte de Arame.  Foto T.Abritta.  Sana, Macaé – RJ, 2010.

sábado, 7 de junho de 2014

Um Ali


            Hoje só quero descansar, meditar e admirar.  Foi uma longa jornada.  Jordânia, verdadeira ilha de progresso, solidariedade humana e paz encravada neste triste oriente médio.
          Da varanda debruçada na árida encosta, cem metros abaixo, o Mar Morto brilha como nunca.  Ao longe, as azuladas montanhas da Palestina.  A sofrida Palestina.  Mais de oitocentos mil desenraizados, injustiçados, escorraçados vivendo tão perto, tão longe de sua pátria.

          “Agradeço de coração seus conhecimentos históricos.  Veio do outro lado do Mundo para nos visitar”. – palavras do jovem que me recepcionou na chegada ao hotel.

          Toda esta região, do Mar Morto até as margens do Rio Jordão, estava pontilhada de minas explosivas.  Hoje, na região de Betânia, verdadeiro exemplo de respeito religioso: mais de cinquenta templos católicos, protestantes; ortodoxos gregos, armênios, russos e mesquitas, todos convivendo na histórica área, cenário de grandes acontecimentos.  Por aqui, nas encostas do Mar Morto, dezenas e dezenas de hotéis integrados na natureza.

          Agora só quero meditar e admirar.  O sol vai deitando nas montanhas, o céu amarelando, a luz brilhando no espelho das águas salgadas.

          No fundo uma volta aos tempos de juventude.  Uma continuação de minhas velhas peregrinações arqueológicas: Egito, Grécia, Roma, México, Peru, Ilha da Páscoa... Inscrições rupestres em desertos, savanas, florestas e praias.
Petra é singular.  A bela fachada do templo funerário, com suas linhas, cantos, planos, tudo preservado da ação de ventos, tempestades de areia e toda abrasão que vai polindo e transformando essas arquiteturas.
Atravessando a longa fenda, mais de um quilômetro de percurso, o céu escondido pelas alturas das rochas, a surpresa: primeira visão da cidade perdida de Petra.  Quase toda destruída por terremotos, mas seus grandes traços poupados.
Surge aos nossos olhos a cidade dos Nabateus (V. Figura 1).



Figura 1 – Petra.  Foto T.Abritta, 2014.

          O sol morrendo nas montanhas, seus últimos raios atravessando as muralhas de Jerusalém – torres e construções surgindo tais pequenos desenhos entalhados no topo das alturas emolduradas pelo amarelo do céu (V. Figura 2).

          Sem os recursos do petróleo, sobrevivem graças a aridez de seus desertos: fosfato, potássio, cimento.  Água bombeada de reservatórios subterrâneos, cata-ventos e células solares produzindo energia.  Verdadeiro formigueiro de caminhões levando mercadorias do porto de Aqaba para o Iraque e outros países.  A lembrança de Nasser nas torres e linhas de transmissão que, da longínqua Assuã, levam energia elétrica para a Síria, Turquia, chegando até a Grécia.


Figura 2 – Montanhas da Palestina.  Foto T.Abritta, 2014.

          “Não edificareis casa, não fareis sementeiras, não plantareis nem possuireis vinha alguma, mas habitareis em tendas todos os vossos dias, para que vivais muitos dias sobre a terra em que viveis peregrinando”.  Assim observou o historiador grego Diodorus Siculus (90 AC – 30 AC) sobre o estilo Beduíno de viver. 
          Hoje os tempos são outros.  Os Beduínos não abrem mão de sua vida nômade (V. Figura 3), mas fazem questão de seus telefones celulares – carregando suas baterias com energia obtida de células solares – e de seus modernos camelos, suas picapes 4x4 com cabine dupla.  Mas continuam criando suas cabras, banqueteando-se com iguarias como galinha, carneiro e legumes com arroz cozidos durante horas em braseiros enterrados nas areias dos desertos.  A par da assistência médica oferecida pelo governo, ainda vacinam suas crianças com uma pasta de ervas e escorpiões macerados. 

          Por fim, só quero admirar.  O sol vai sumindo, a noite caindo.  Ao longe, as luzes de Jerusalém brilham no alto das Montanhas da Palestina.  Descendo o olhar, as luzes de Jericó, cidade mais antiga do mundo.
          A abóboda celeste brilhando como nunca.  O intenso luar não consegue esconder as luzes de Saturno.  O vermelho intenso de Antares, o olho do Escorpião, parece levar-me a uma antiga caravana navegando pelos desertos, buscando o rumo em sua peregrinação para Meca.

          A propósito, Um Ali é um delicioso doce árabe feito pela Mãe de Ali.  Leva pão, leite, açúcar, amêndoas, cardamomo, canela e outras especiarias, podendo ser servido no café da manhã ou como sobremesa, com sorvete.


Figura 3 – Beduínos do Deserto.  Foto T.Abritta, 2014.