Botswana, Foto T.Abritta, 2008

segunda-feira, 24 de junho de 2013

Fixações Ficcionais


Já não encontro prazeres na escrita

– trêmulas letras, palavras desfocadas.

Versos fogem-me tal à harpa o som final.

 
Desencantados personagens.

Já não sinto envolvimentos

sabor ou frescor.

 
Não mais consigo criar mundos

nem refúgios de impossibilidades.

Apenas vazios de realidades a atormentar.

 
Não mais escuto suas vozes

nem lhes vejo os sorrisos.

Imaginários fantasmas

angustiantes inexistências.

 
Outrora, delírios de criação.

Agora, apenas o ponto final.

 
Delirium.  Foto T.Abritta, 2013
 

domingo, 2 de junho de 2013

Evanescências


Matterhorn, Zermatt-Suíça.  Foto T.Abritta, 2013.
 
Eu sou o Matterhorn.

Furo céus a 4478 metros.

Precisão topográfica,

tempos de GPS – tecnologia.

 
Mas o que vale o progresso

se me dispo do manto

que vesti há tantos milhões de anos?

Joia destes Alpes suíços.

 
Negra pele negra rocha.

Agora desnuda

absorvendo sol primaveril

aquecendo derretendo escorrendo perdendo

                                [outrora neves eternas.

 
Alpinistas me abandonaram.

Choram o degelo,

lágrimas de alvos paredões.

 
Uns dizem: causas naturais.

Mas, e os ursos e lobos que me acompanhavam,

onde estão?

Quem os matou?

 
Hoje, apenas lamentos:

 
Look in my face; my name is Might-have-been;

I am also called No-more, Too-late, Farewell…

 

Nota: Em itálico, intertexto de versos do poema A Superscription de Dante Gabriel Rossetti (Olhem meu rosto; meu nome é Aquele que Poderia Ter Sido; / chamam-me também Nunca Mais, Tarde Demais, Adeus...).