Botswana, Foto T.Abritta, 2008

quarta-feira, 12 de maio de 2021

Proust e a Fotografia


          Proust foi testemunha histórica do surgimento da fotografia, que logo o encantou.  Assim, passou a colecionar fotografias de amigos, parentes e até de desconhecidos.  As imagens eram guardava em um álbum, que periodicamente folheava, sendo muitas vezes fonte de inspiração na descrição de personagens, cenas ou episódios. 

          Abaixo transcrevo dois trechos de sua obra “Em busca do tempo perdido”, onde a fotografia está fortemente presente:

 

          “O grande fato que convém tentar pensar não é que as fotografias...parecem nos fazer crer que ela continua ali, o grande fato é o contrário: é que ela não está mais” (um personagem refletindo diante da fotografia de um ente querido já falecido). 

 

          “Aquela fotografia era como um encontro a mais acrescentado aos que já tivera com a Senhora Duquesa de Guermantes.  Melhor ainda, um encontro prolongado, como se num brusco progresso em nossas relações, ela tivesse parado junto a mim, deixando pela primeira vez olhar à vontade aquela pinta na face, aquele maneio de nuca, aquele canto de sobrancelhas, assim como o recatado colo e braços.  Para mim, verdadeira graça.  Voluptuosa descoberta.  Aquelas linhas que me pareciam quase proibidas de olhar, poderia estudá-las aqui como num tratado da única geometria valorosa para mim.”

 

          Desde jovem Proust trocava e colecionava fotografias. Aos vinte anos de idade recebeu uma fotografia que muito o marcou. Foi lhe dada por um amigo chamado Aubert, que a título de dedicatória, escreveu em seu verso um fragmento de um poema de Dante Gabriel Rossetti:

 

“Look in my face; my name is Might-Have-Been;

I am also called No-more, Too-late, Farewell…”

(Olhem meu rosto; meu nome é Aquele que Poderia Ter Sido; / chamam-me também Nunca Mais, Tarde demais. Até logo...)

Pouco tempo depois Aubert faleceu de apendicite agudo.

 

 

 

          Aproveito para acrescentar nestas notas, minha visão da fotografia como Arte:

          “Fotografia é como um poema. Depois de escrito pertence ao leitor-espectador que cria mil e uma interpretações. Assim, uma imagem diz o que vemos – na imaginação, ou no frio recorte formado por cores e formas.

          Tal um poema, também reflete a poesia de imagens imateriais, seus não ditos a serem decodificados pelo Observador.”

 

domingo, 9 de maio de 2021

Poema Geológico


A solidão tem esta cara

Duras rochas

Que o tempo faz

Silêncio

"Monastério". Formação rochosa devido a atividade vulcânica 

nos contrafortes dos Andes. Mendoza, Argentina. Foto T.Abritta, 2014.