Botswana, Foto T.Abritta, 2008

domingo, 14 de agosto de 2016

Jequitinhonha: A Título de Posfácio


          “Todos sentiram sua partida, doutor.  Foram sete anos por aqui e já tem quase vinte anos.  Vou chamar seu Salvador mais seu Rocha pra saberem das novidades.”
          “Parece até que foi ontem.  Todo povo comentando: o novo promotor tranca a porta de casa durante o dia.  Uma desfeita para a cidade – gente ruim.  Mas quando deu ordens pra passar as chaves na cadeia, gostaram.”
          “Pudera, fazendeiro assassino, compadre do Coronel, trancado igual preso!” 
          “Cabo Chico Diabo morreu quieto.  Diziam que nestes sete anos perdeu o gosto da maldade.  O Coronel preferiu a reforma e partiu daqui magoado com seus soldados: viraram maricas, não cumprem mais as ordens.
          “E o negrinho?”
          “Assim que deu baixa do Exército, veio da capital e foi morar no sítio herdado do padrasto.”
          “O padrasto?  Uê, o doutor não mandou pro manicômio judiciário?  Logo logo deram jeito no coisa ruim!”

          E lá foram, embornais e armas nas costas, mirrado gadinho.

          Então, este é o Sertão?  Não sei, ninguém sabe. 
A hora é de despedidas.  Simplesmente observe o cair da tarde aqui do Cruzeiro.  O vale sumindo, nuvens escurecendo, primeiras luzes acendendo.  Lanternas vermelhas brilhando no Beco do Mota.  Mais tarde, ruas encantadas: serenatas.
          Pela manhã, pessoas pra lá, pra cá.  A gritaria no Mercado, a movimentação dos compradores de pedras nas esquinas.  Gatos espreguiçando nos beirais.
Hoje ainda assim. 
Amanhã, só os sinos saberão. 


Diamantina, MG.  Foto T.Abritta, 1965.



Diamantina, MG.  Vista do Alto do Cruzeiro.   Foto T.Abritta, 1965.

Teócrito Abritta, 2016.


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