Botswana, Foto T.Abritta, 2008

sábado, 23 de janeiro de 2016

O Azul do Firmamento


O Azul do Firmamento.  Corumbau, Bahia. Foto T.Abritta, 2010.


          Paisagem esplendorosa.  O mar, montanhas, o verde flamejante.  Areias infinitas.  Capturar fotograficamente o cenário parecia fácil.  Mas como criar um diferencial de modo que a paisagem tivesse uma singularidade – ponto focal de interesse?
          Pensei numa composição colocando em primeiro plano uns garotos cavando as areias para pegar tatuís.
          Isto seria interessante – o pequeno crustáceo desapareceu da maioria de nossas praias.  Registraria a “sobrevivência” ambiental destas areias.

          Não sei se foi real, sonho, imaginação.  Ou talvez alucinação.
          Efeitos do intenso sol de verão.

          Parecia uma musa a mulher que caminhava toda charmosa na minha direção.  Vestia uma bata branca, segurava a aba do chapéu de palha com a mão direita, de modo a cobrir o rosto, apenas visível o vermelho dos lábios.  O sinuoso movimento do caminhar se refletia em sua sombra, em diagonal, formando um “V” tal o bater de asas de enigmático cisne, metade branco, metade preto.

          Não sei se foi real, sonho, imaginação.  Ou talvez alucinação.
          Efeitos do intenso sol de verão.

          O meu ponto focal para a foto!

          Abri a lente de modo a focar na minha modelo, sem perder a nitidez nos outros elementos da imagem.  Cliquei uma série no modo de disparo contínuo, até ela passar por mim, silenciosa, macia, como algo que flutua.
          Virei-me discretamente, acompanhando a outra face daquele caminhar, a bata esvoaçando ao vento, curvas insinuando, sinuosamente, sensualmente, o corpo imaginário.
          Foi sumindo, sumindo, rasgando o azul do firmamento, deixando um perfume de carne nua...


          Escolhi a foto em que ela estava no meio de um passo, o pé esquerdo no ar, sua sombra projetada na areia.  O braço esquerdo em gracioso movimento, como se fosse voar e o par de belas pernas a movimentar.

          Ah, a técnica: alinhei o horizonte de modo a equilibrar a imagem e dei uns cortes nas laterais, sumindo com elementos distracting – incrível, ate hoje não encontrei em Português uma palavra que tão bem traduza esta ideia.  Particularidades das línguas.
          E assim uma bela foto.  A modelo em primeiro plano, emoldurada pela paisagem e pelos meninos pegando tatuís.
          A beleza humana em plena natureza intocada.  Uma imagem conceitual.


          Mas nada disto aconteceu.  Eu não estava lá, não tirei foto nenhuma, nem sei as razões e motivações de quem capturou a imagem!
          Fotografia é como um poema. Depois de escrito pertence ao leitor-espectador que cria mil e uma interpretações. Assim, uma imagem diz o que vemos – na imaginação, ou no frio recorte formado por cores e formas.
          Tal um poema, também reflete a poesia de imagens imateriais, seus não ditos a serem decodificados pelo Observador.
          Em Cores...

          Ou... no delicado Sépia da nostalgia!

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