Botswana, Foto T.Abritta, 2008

sábado, 1 de fevereiro de 2014

Arte & Tecnologia

Publicado no Montbläat em janeiro de 2008.

          As técnicas digitais e de impressão têm evoluído tão rapidamente que os profissionais, tanto das áreas tecnológicas como artísticas, acabam ficando perdidos.  Aos técnicos não restam alternativas que não seja a reciclagem constante e uma paciência infinita em ter que abandonar aqueles programinhas que dominava tão bem e “aprendertudo de novo.  E os artistas como ficam?  Em geral, como em boa parcela da sociedade, esta classe não tem nenhum conhecimento científico e fica facilmente maravilhada com as novas tecnologias disponíveis, olhando seus produtos como produção artísticaIsto pode ser constatado, por exemplo, nas exposições fotográficas e instalações artísticas, onde imagens fotográficas de grandes dimensões são apresentadas como arte e não como um simples produto das novas impressoras, que são capazes de produzir fotos em grande formato, com qualidade fotográfica e exibindo aquelas belas cores saturadas, mas irreais.
No sentido de aproximar artistas das tecnologias disponíveis, achei interessante a tentativa da Galeria Artur Fidalgo, no Rio de Janeiro, com a exposição Alumínio Digital, onde um grupo de artistas concebe suasgravurasdigitalmente para serem impressas com a moderna técnica denominada computer-to-plate (CTP).
          Nas impressões tradicionais são usados quatro fotolitos de acetato para cada imagem – um para cada uma das cores básicas, como o ciano, magenta e amarelo e o quarto para a cor preta.  Na técnica computer-to-plate a imagem digital é gravada diretamente, por um laser, em um polímero foto-sensível que reveste uma placa de alumínio anodizado, gerando as placas de impressão que permitem uma tiragem de até um milhão de cópias, com uma resolução e velocidade superiores às outras técnicas
          Na gravura artística, a imagem concebida é gravada invertida em uma placa e depois transferida para o papel com o uso de uma prensa.  O gravador, após vários testes, chega a imagem impressa desejada.  Isto implica na textura do papel, densidade e viscosidade das tintas utilizadas, qualidade da gravação e infinitos outros fatoresEm certo sentido, aqui cabe uma comparação com a fotografia tradicional, onde a imagem fotografada passa por processos de revelação, lavagens, secagens e ampliações, onde o controle de temperatura e de resíduos nos produtos químicos, são fundamentais para a boa qualidade de uma imagemMuitos fotógrafos que tiveram seus filmes danificados por laboratórios fotográficos comerciais, acabavam arregaçando as mangas e praticando esta fotografiaquímica”. 
          Se pensarmos que a fotografia digital eliminou todos os processos descritos acima e a imagem fotografada vai, após ajustes digitais em um computador, diretamente para uma impressora comercial, porque não poderíamos falar em uma gravura digital?  O problema é que não teríamos mais diferença entre uma gravura com valor artístico e as artes gráficas usadas na produção de jornais, revistas e panfletos
          Para falarmos de uma gravura digital, equivalente à fotografia digital, o ideal é que os artistas concebessem suas imagens usando as facilidades computacionais existentes e as gráficas apenas preparassem as chapas para os próprios artistas fazerem as impressões usando suas prensas tradicionais.  Este processo poderia ser estendido a placas de gravação de madeira e de pedra (usando jatos de água, por exemplo, ao invés de um laser).  Isto, como no caso da fotografia digital, facilitaria o processo de gravação, mas preservaria o seu valor artístico, que as texturas existentes não no papel utilizado, mas também nos diversos materiais das placas de gravação, como as fibras da madeira ou os veios da pedra, poderiam continuar valorizando a gravura permitindo uma maior liberdade artística
          No caso da exposição Alumínio Digital, tentei conversar com diversos artistas no dia do vernissage, mas eles fugiam constrangidos, mostrando que não tinham a mínima ideia de como foram feitas as impressões de suas obras.  Portanto, este evento perdeu uma grande oportunidade de lançar o que seria a “gravura digital”.  Esta nova técnica poderia ser marcada por uma cerimônia, onde os arquivos digitais originais usados para as gravuras, seriam deletados e as chapas de alumínio usadas em prensas tradicionais de gravação com a numeração das cópias produzidas.  Isto, de alguma forma, promoveria uma maior integração entre arte e tecnologia, ou pelo menos chamaria atenção para as novidades em nosso mundo de imagens


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