Botswana, Foto T.Abritta, 2008

segunda-feira, 19 de outubro de 2020

Telegrama


          Emoção na cidade.

          Chegou telegrama para Chico Brito.

          Que notícia ruim,

          que morte ou pesadelo

          avança para Chico Brito no papel dobrado?

 

          Nunca ninguém recebe telegrama

          que não seja de má sorte. Para isso

foi inventado.

 

          Lá vem o estafeta com rosto de Parca

          trazendo na mão a dor de Chico Brito.

          Não sopra a ninguém.

          Compete a Chico

          descolar as dobras

de seu infortúnio.

 

Telegrama telegrama telegrama

Em frente à casa de Chico o voejar murmure

de negras hipóteses confabuladas.

O estafeta bate à porta.

Aparece Chico, varado de sofrimento prévio.

 

Não lê imediatamente.

Carece de um copo d’água

e de uma cadeira.

Pálido, crava os olhos

nas letras mortais.

 

Queira aceitar efusivos cumprimentos passagem data natalícia espero merecer valioso apoio distinto correligionário minha reeleição deputado federal quinto distrito cordial abraço Atanágoras Falcão

 

Poema de Carlos Drummond de Andrade.

 

          O telegrama já foi o mais rápido meio de comunicação.  As letras e algarismos eram codificadas por pontos e traços, segundo o Código Morse e a mensagem transmitida por pulsos elétricos curtos (pontos) e longos (traços) através dos cabos telefônicos. 

          Para quem não conheceu, ver abaixo a imagem de um telegrama enviado “com urgência”.

Ah, “PT’ significa ponto.



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