Botswana, Foto T.Abritta, 2008

domingo, 4 de outubro de 2020

Artefatos

 

“Os resultados mais correntes da conduta humana, os dados arqueológicos mais vulgares, podem chamar-se artefatos, coisas feitas ou desfeitas por uma deliberada ação humana.”

Gordon Childe.

 

          Olhando esta pedra na minha estante, lembro-me da Praia do Moçambique, na Ilha de Santa Catarina, onde estive há muitos anos. 

          A praia, de areias cristalinas, tinha uns oito quilômetros de extensão e margeava uma reserva de vegetação costeira praticamente impenetrável. 

          Depois de percorrer uma grande distância nesta praia, iniciei o retorno, pois a maré estava subindo e as ondas provocavam desabamentos na encosta, levando terra e vegetação, quando vi uma pedra que afundava na areia. Corri e consegui pegá-la.

          Seria esta pedra um artefato arqueológico, como sugere sua forma?  Tinha aproximadamente uns dezoito centímetros de comprimento e assemelhava-se – ver figura abaixo – a um percutor bem polido, ferramenta lítica usada, por exemplo, como batedor, mão de pilão e inúmeras outras finalidades.

          Pensando na frase do arqueólogo Gordon Childe, usada como epígrafe para este texto, fico especulando: seria esta “pedra”, o vestígio único de algum grupo que ocupou este litoral?  Afinal, o nível do mar era muito mais baixo e foi subindo, submergindo terras emersas ao longo dos anos, formando – aproximadamente há uns sete mil anos atrás – o litoral como hoje conhecemos.  Portanto, vestígios de povos que ocuparam este litoral podem estar submersos e inacessíveis. 

          Olho aquela pedra na minha estante e passo a considerá-la um solitário artefato, vestígio de povos perdidos no tempo. 


Percutor-Praia do Moçambique, Ilha de Santa Catarina, SC.



 

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