Botswana, Foto T.Abritta, 2008

quinta-feira, 14 de abril de 2016

A última maca

Intervenção digital em radiografia. T.Abritta.

...no metálico rolar, a trepidação era afago final.  Longa viagem.  Corredores labirínticos intermináveis.  O oxigênio me fugia, tal a rima ao poeta.  Palavras diferentes.  Letras repetidas.  Sonoridades de nota só.  Sons aprisionados, vibrações amortecidas em rígidas cordas de aço.  Nos delírios respiratórios, duras mãos, ossificados dedos, inexistentes unhas vermelhas, teclando palavras mortas nos teclados da imaginação que não brilham mais nos pixels da iluminação, nem iluminam o fosco opaco do cansado cristalino.  Na escuridão, vultos felinos, lânguidas criaturas, afiam garras de sedução.  Inútil esforço.  Vã tentativa em atenuar, na ilusão, o terror do coma induzido para respiração.  O desconhecido: será como um sonho, o não pensar deste falso respirar?  A maca chega.  É o final.  Perco a dimensão na estranha sensação do girar espacial.  Agarro-me a uma ilusória ópera de rua.  Atores sumindo, dança cada vez mais lenta, música afastando-se.  Doce música.  Brilhará até o fim da transitória noite escura?  E depois, quando o nada triunfar sobre o mecânico pulsar?


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