Botswana, Foto T.Abritta, 2008

segunda-feira, 5 de agosto de 2013

Raios-X & Imagem


Publicado no Montbläat em agosto de 2008.

          Sempre foi um sonho do homem penetrar no mundo invisível, não pela mistificação de pseudoteorias como auras, fluidos, vibrações do éter ou psicofotografias, mas sim pelas mãos da objetividade da ciência.  Isto foi conseguido, em dezembro de 1895, pelo físico alemão W. K. Röntgen que descobriu os Raios X, produzidos pela aceleração de feixes de elétrons que se chocavam com uma placa metálica e podiam ser registrados pela sensibilização de um filme fotográfico.  Este fato, que foi mostrado pela radiografia da mão de Bertha (V. Figura 1), esposa de Röntgen, surpreendeu a Ciência, pois se tratava de uma radiação eletromagnética que podia atravessar a pele, os músculos e vários tecidos, mostrando os ossos e órgãos internos. 

          Podemos dizer que esta simples experiência, associada aos métodos computacionais; à evolução de programas gráficos e sofisticado ferramental matemático foi a origem de todas as técnicas de imagens médicas de hoje. 
 



Figura 1 - La Main de Madame Röntgen, por Wilhelm Konrad Röntgen (1845-1923) em 22/12/1895.
 

 
    Por outro lado, um maior conhecimento da estrutura da matéria nos levou à energia nuclear e, infelizmente, a uma capacidade infinita de matar e destruir.  Em agosto lembramos o aniversário de um terrível acontecimento “fotografado” usando comofilme” a tinta queimada de uma casa, que registra as sombras de uma escada e a imagem de uma figura humana que simplesmente desapareceu, como se tivesse evaporado com a explosão da bomba atômica em Hiroshima, em 6 de agosto de 1945 (V. Figura 2).  Pode-se observar que a escada sequer foi deslocada, o que indica que estava a uma grande distância da explosão, mas a vida não foi poupada diante da intensidade da radiação.  De imediato foram mortas cento e quarenta mil pessoas, no maior ato de terrorismo que a Humanidade já assistiu. 
          Três dias depois a cidade japonesa de Nagasaki também sofreu um ataque nuclear que ceifou setenta e cinco mil vidas neste segundo ato de mega-terrorismo de estado, que consiste em causar sofrimento e morte de civis para obter vantagens políticas ou militares. 
 
 
 Figura 2 - Hiroshima, foto Asahi, 6 de agosto de 1945.

 
          Aproveitando esta oportunidade para um alerta contra o terror nuclear, voltamos ao nosso mundo de imagens com obras produzidas e vivenciadas por pessoas civilizadas. 
          A “fotografiapor Raios X exerce um grande apelo, devido à sua incursão pelo mundo invisível e muitas vezes insólito.  Alguns fotógrafos, como por exemplo, Helmut Newton, fizeram experimentos com esta técnica (V. Figura 3).  Mas devido aos riscos inerentes com a exposição dos modelos à radiação foram esquecidas, ficando hoje restritas ao universo científico, técnico ou médico. 
 
 
Figura 3 - X-Ray High Heel, foto Helmut Newton, Vogue francesa, Paris 1994
 
          Como uma homenagem a Röntgen, apresento a fotografia mostrada na Figura 4, onde uma radiografia tradicional foi escaneada e colorizada. 
          Muitos talvez não aceitem a denominação de fotografia para esta figura.  Mas qual seria a diferença entre a captura digital de um escâner e de um equipamento chamado formalmente de câmera fotográfica? 
          Se insistirmos nesta discussão estaremos voltando aos anos 60 quando alguns não consideravam como fotografia as “derivaçõesourecriações” de José Oiticica Filho
 
 

Figura 4 – Les Mains de Madame X.  Foto T.Abritta, 2005.

 
 
 

 
 
 

 

 

2 comentários:

  1. A matéria radiada em lâmina,
    revelação da imagem oculta.

    Derivações do corpo
    e o corpo a deriva.

    Manter a vida
    ou eclodir a morte.

    são detalhes...
    Dos tempos,
    dos homens e seus propósitos.

    abço. lena



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    Respostas
    1. Obrigado, Lena!
      Linda reflexão poética sobre as Ciências da Vida. Abraços.

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