O
Azul do Firmamento.
Corumbau, Bahia. Foto T.Abritta, 2010.
Paisagem esplendorosa. O mar, montanhas, o verde flamejante. Areias infinitas. Capturar fotograficamente o cenário parecia
fácil. Mas como criar um diferencial de
modo que a paisagem tivesse uma singularidade – ponto focal de interesse?
Pensei numa composição colocando em
primeiro plano uns garotos cavando as areias para pegar tatuís.
Isto seria interessante – o pequeno
crustáceo desapareceu da maioria de nossas praias. Registraria a “sobrevivência” ambiental
destas areias.
Não sei se foi real, sonho, imaginação. Ou talvez alucinação.
Efeitos do intenso sol de verão.
Parecia uma musa a mulher que
caminhava toda charmosa na minha direção.
Vestia uma bata branca, segurava a aba do chapéu de palha com a mão
direita, de modo a cobrir o rosto, apenas visível o vermelho dos lábios. O sinuoso movimento do caminhar se refletia
em sua sombra, em diagonal, formando um “V” tal o bater de asas de enigmático
cisne, metade branco, metade preto.
Não sei se foi real, sonho,
imaginação. Ou talvez alucinação.
Efeitos do intenso sol de verão.
O meu ponto focal para a foto!
Abri a lente de modo a focar na minha
modelo, sem perder a nitidez nos outros elementos da imagem. Cliquei uma série no modo de disparo
contínuo, até ela passar por mim, silenciosa, macia, como algo que flutua.
Virei-me discretamente, acompanhando a
outra face daquele caminhar, a bata esvoaçando ao vento, curvas insinuando,
sinuosamente, sensualmente, o corpo imaginário.
Foi sumindo, sumindo, rasgando o azul
do firmamento, deixando um perfume de carne nua...
Escolhi a foto em que ela estava no
meio de um passo, o pé esquerdo no ar, sua sombra projetada na areia. O braço esquerdo em gracioso movimento, como
se fosse voar e o par de belas pernas a movimentar.
Ah, a técnica: alinhei o horizonte de
modo a equilibrar a imagem e dei uns cortes nas laterais, sumindo com elementos
distracting – incrível, ate hoje não
encontrei em Português uma palavra que tão bem traduza esta ideia. Particularidades das línguas.
E assim uma bela foto. A modelo em primeiro plano, emoldurada pela
paisagem e pelos meninos pegando tatuís.
A beleza humana em plena natureza
intocada. Uma imagem conceitual.
Mas nada disto aconteceu. Eu não estava lá, não tirei foto nenhuma, nem
sei as razões e motivações de quem capturou a imagem!
Fotografia é como um poema. Depois de
escrito pertence ao leitor-espectador que cria mil e uma interpretações. Assim,
uma imagem diz o que vemos – na imaginação, ou no frio recorte formado por
cores e formas.
Tal um poema, também reflete a poesia
de imagens imateriais, seus não ditos a serem decodificados pelo Observador.
Em Cores...
Ou... no delicado Sépia da nostalgia!
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