“Todos sentiram sua partida,
doutor. Foram sete anos por aqui e já
tem quase vinte anos. Vou chamar seu
Salvador mais seu Rocha pra saberem das novidades.”
“Parece até que foi ontem. Todo povo comentando: o novo promotor tranca a porta de casa durante o dia. Uma desfeita para a cidade – gente ruim.
Mas quando deu ordens pra passar as chaves na cadeia, gostaram.”
“Pudera, fazendeiro assassino,
compadre do Coronel, trancado igual preso!”
“Cabo Chico Diabo morreu quieto. Diziam que nestes sete anos perdeu o gosto da
maldade. O Coronel preferiu a reforma e
partiu daqui magoado com seus soldados: viraram
maricas, não cumprem mais as ordens.”
“E o negrinho?”
“Assim que deu baixa do Exército, veio
da capital e foi morar no sítio herdado do padrasto.”
“O padrasto? Uê, o doutor não mandou pro manicômio
judiciário? Logo logo deram jeito no
coisa ruim!”
E lá foram, embornais e armas nas
costas, mirrado gadinho.
Então, este é o Sertão? Não sei, ninguém sabe.
A
hora é de despedidas. Simplesmente
observe o cair da tarde aqui do Cruzeiro.
O vale sumindo, nuvens escurecendo, primeiras luzes acendendo. Lanternas vermelhas brilhando no Beco do Mota. Mais tarde, ruas encantadas: serenatas.
Pela manhã, pessoas pra lá, pra
cá. A gritaria no Mercado, a
movimentação dos compradores de pedras nas esquinas. Gatos espreguiçando nos beirais.
Hoje
ainda assim.
Amanhã,
só os sinos saberão.
Diamantina, MG.
Foto T.Abritta, 1965.
Diamantina, MG. Vista do Alto do Cruzeiro. Foto T.Abritta, 1965.
Teócrito Abritta, 2016.
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