...aqui
em São Paulo, andava de um lado
para outro. Deslizava os dedos pelas
lombadas dos livros nas estantes. A
maioria já lida. Outros, apenas
conhecidos por referência, lá repousavam.
A Máquina do Tempo de HG Wells
ao lado de livros sobre História.
Difícil entender meus critérios na arrumação das obras por assunto. Lá no canto, Grande Sertão Veredas.
Abrindo numa página qualquer, a voz de Riobaldo:
O
senhor tolere, isto é o sertão. Uns
querem que não seja: que situado sertão é por campos-gerais a fora a dentro,
eles dizem, fim de rumo, terras altas, demais do Urucúia, Toleima. Para os de Corinto e de Curvelo, então, o
aqui não é dito sertão?
Como
uma viagem no tempo, as discussões literárias na casa do Juiz:
Mas este escritor está mais para
Cientista. Percorre estas terras
anotando nomes de plantas, rios, animais...
Como pode um diplomata tão erudito
passar dias escutando conversas de gente boba da roça?
Ora, mas sete anos antes da Semana de
Arte Moderna de 1922, os jornais falavam o mesmo de Afonso Arinos: “nas
entradas no Sertão, a que se entregava periodicamente, tinha o cuidado de
evitar a gafe, e ele dispensava seus elegantíssimos ternos citadinos para esfarpelar-se
à moda sertaneja, sem esquecer coturnos, chapelão de couro e roupa de brim”.
Mas o roceiro é contemplativo. Sabe
admirar a Natureza. Sabe cantar a beleza
feminina: fulana é forte, bonitona e sacudida...
O que seria da Vida sem estas
belezuras, as éguas, o boi no pasto e as muié?
Todos
riram e um gole de cachaça para brindar
Fechei
os olhos, as lembranças das minhas incursões médicas por este mundão de
Deus. Tratava desde tosse-de-cachorro,
bicho-de-pé e até doenças graves.
Cheguei a escutar as cantorias, que de longe anunciavam a chegada em alegres
comunidades...
Bambu,
quero ver quebrar
Êêêê
bambu, cê quebra já
Cê
quebra devagarinho
Êêêê
bambu,
Prá
não machucar
Roda
morena, morena torna rodar
Nunca
vi em quem tem amor
Despedida
sem chorar
Juntei
toda a papelada, numerei as páginas e pacientemente encadernei costurando com
uma agulha de sapateiro.
E
assim termino esta atrevida incursão literária.
Como
num amanhecer, as estrelas abandonam o
céu, os vaga-lumes vão se apagando medrosos e ocultando-se no segredo da
vegetação, enquanto seus derradeiros lampejos na mata se misturam ao clarão do
dia nascente, formando uma luz turva, indecisa, incolor (*).
(*) De Canaã Graça Aranha.
Avenida
Rio Branco, Rio de Janeiro, anos 50.
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