"Dizem por aí, mas não tenho
certeza, que meu sorriso fica mais feliz quando te vejo, dizem também que meus
olhos brilham, dizem também que é amor, mas isso sim é certeza.”
Machado de Assis
Assim como o olhar humano, em
Fotografia de Natureza é fundamental interpretar o olhar animal, conhecer seu
comportamento e estado de espírito manifestado através de seus ruídos e
movimentos. Como exemplo, nesta primeira
crônica desta série, apresentamos o episódio registrado pela imagem abaixo, que
exemplifica também a “Fotografia do Movimento”.
Era um fim de tarde maravilhoso nas
margens de um lago na Botswana. O sol caía
no horizonte e hipopótamos se banhavam ao longe. Paramos o jipe, armamos a mesa do piquenique,
mas o protesto ao longe interrompeu tudo.
Ali era a área de pastagem (*) de um hipopótamo, que veio
furioso, abrindo a boca, soltando seus grunhidos, sacudindo o traseiro de modo
a espalhar fezes para todos os lados.
Eram os sinais máximos de seu desagrado.
Todos correram para o jipe, mas
permaneci, esperando uma maior aproximação do animal, pois estava longe e
escuro para a foto.
Por azar, uma elefanta, acompanhada de
seu filhote, surgiu a uns dez metros caminhando vagarosamente para o lago. Nestas situações devemos ficar imóveis,
abaixar a cabeça de modo a não demonstrar agressividade e esperar sem apontar
nenhuma câmera fotográfica.
Foi rápido, mas pareceu uma
eternidade. E o hipopótamo chegando e
nada de abrir a boca. O pessoal no jipe
me agarrando pela camisa, prontos para o resgate.
Abaixei a cabeça. Com a câmara na altura da cintura, focalizava
o hipopótamo através do visor aberto e girado para cima.
Funcionou. O hipopótamo me olhou firme, abaixou a cabeça
e placidamente iniciou a sua pastagem de final do dia.
Com a pouca luz, a imagem foi tirada
com um longo tempo de exposição, de modo que apenas estes dois momentos ficaram
bem nítidos. Observe os detalhes da
imagem do olho esquerdo duplicada.
(*)
Os hipopótamos durante o dia permanecem na água, pois sua pele é muito sensível
ao sol. Quando se afastam muito de lagos
e rios e são surpreendidos pelo amanhecer, produzem um óleo vermelho que
escorre pelo corpo como proteção.
Botswana.
Foto T.Abritta, 2008.
Fantástica África selvagem. Aventura deslumbrante.
ResponderExcluirObrigado, Sílvio. Estou como São Francisco de Assis, que preferia (num gesto simbólico e de protesto) falar (no caso escrever sobre) com os animais do que com os homens.
ResponderExcluirMas são pequenos textos que depois vou reunir em um livro - digital pelo custo das imagens, caso impresso.