Publicado no Montbläat em maio de 2008.
Ao
folhearmos revistas e jornais só nos deparamos com
lindas imagens. Mulheres com pernas
longas, silhuetas perfeitas e peles sem
rugosidades, pintas ou
manchas , o que
nos lembra aquele
comercial dos anos
60: que rostinho tão
lindo ...ela
usa ponds.
Isto,
em parte, é devido
à influência da propaganda
nos meios
de comunicação , onde
um rosto
enrugado , mesmo
em uma reportagem policial ,
pode “contaminar ” a beleza
de um anúncio
na página seguinte . Logo, todas as fotografias
publicadas devem ser “apresentáveis ”,
usando programas de manipulação de imagens como Photoshop, Lightroom ou Photomatix que fazem verdadeiros milagres
visuais .
Mas, neste culto a uma suposta perfeição estética , deveriam ser
poupadas imagens clássicas ou que tenham
grande significado histórico
de modo a não
falsearmos a verdade .
A
revista Veja de 23 de abril de 2008,
no artigo Os pobres no país dos ricos ,
comete uma destas tentações , fazendo uma
maquiagem digital
– base corretiva ,
pó de arroz ,
retoques na sobrancelha e cabelo ,
baton etc. – na clássica e dramática fotografia Migrant Mother, da fotógrafa
americana Dorothea Lange, que foi usada para ilustrar o texto (V. Figura 1). No artigo Um mundo de imagens :
“photoshop” analógico, apresentamos não
só o original
desta fotografia de 1936, como comentamos outros
atentados a esta obra
artística que
documenta o sofrimento humano .
Migrant Mother, publicada na revista
Veja.
Voltando
ao tema mais
ameno da fotografia ,
a imagem original
(V. Figura 2) usada no Le Nouvel Observateur foi obtida em 1952 e tem uma história
interessante. Simone estava com seu amante , o jornalista e escritor norte americano Nelson Algren – uma de suas
grandes paixões – em um daqueles diminutos
apartamentos parisienses ,
tendo ido tomar
banho no banheiro do vizinho , o fotógrafo
americano Art Shay, que
aproveitou a oportunidade para
a fotografia não
autorizada. Com
o tempo tudo
foi esquecido, até que
Art Shay, hoje com
oitenta e seis anos , redescobrisse este negativo que acabou na capa
desta publicação.
A
foto publicada foi adaptada aos padrões de beleza de hoje , criando uma Simone mais
“malhada ”, com
uma silhueta mais
afinada, quadris reduzidos e uma pele perfeita . O banheiro foi “higienizado”, disfarçando-se tanto o vaso sanitário
como o papel higiênico
e “clarificado”, de modo a perder seu ar ordinário .
Teócrito,
ResponderExcluirQuando eu assisti à bela exposição da revista O CRUZEIRO no IMS, vi o quanto a boa fotografia pode ser feita sem os recursos da tecnologia atual. O objetivo era jornalístico.
Hoje, até a TV possui lentes especiais que fazem verdadeiras plásticas nos atores.
Tudo isso tem por objetivo criar um padrão de beleza e idolatria da juventude. No entanto, toda idade tem sua beleza. Sabedoria é viver bem cada uma delas.