Publicado no Montbläat em janeiro de
2008.
As
técnicas digitais
e de impressão têm evoluído tão rapidamente que
os profissionais , tanto
das áreas tecnológicas como artísticas, acabam ficando perdidos. Aos técnicos
não restam alternativas
que não
seja a reciclagem constante
e uma paciência infinita
em ter que abandonar aqueles programinhas que
dominava tão bem
e “aprender ” tudo
de novo . E os
artistas como ficam? Em geral , como em boa parcela
da sociedade , esta classe
não tem nenhum
conhecimento científico
e fica facilmente maravilhada com as novas tecnologias
disponíveis , olhando seus produtos como
produção artística . Isto
pode ser constatado, por
exemplo , nas exposições
fotográficas e instalações artísticas, onde imagens
fotográficas de grandes dimensões são
apresentadas como arte
e não como
um simples
produto das novas
impressoras , que
são capazes
de produzir fotos
em grande
formato , com
qualidade fotográfica
e exibindo aquelas belas cores
saturadas, mas irreais .
No sentido
de aproximar artistas
das tecnologias disponíveis ,
achei interessante a tentativa da Galeria Artur Fidalgo ,
no Rio de Janeiro ,
com a exposição
Alumínio Digital ,
onde um
grupo de artistas
concebe suas “gravuras ”
digitalmente para
serem impressas com a moderna técnica
denominada computer-to-plate (CTP).
Nas
impressões tradicionais são usados quatro
fotolitos de acetato para
cada imagem – um para
cada uma das cores
básicas, como o ciano, magenta e amarelo
e o quarto para a cor preta . Na técnica
computer-to-plate a imagem digital
é gravada diretamente , por um laser , em um polímero
foto-sensível que reveste uma placa de alumínio
anodizado, gerando as placas de impressão que
permitem uma tiragem de até um milhão de cópias ,
com uma resolução
e velocidade superiores
às outras técnicas .
Na
gravura artística ,
a imagem concebida é gravada invertida em uma placa e depois transferida para o papel com o uso de uma prensa . O gravador ,
após vários testes , chega a
imagem impressa
desejada. Isto
implica na textura do papel ,
densidade e viscosidade
das tintas utilizadas, qualidade da gravação
e infinitos outros
fatores .
Em certo
sentido , aqui
cabe uma comparação com a fotografia tradicional, onde
a imagem fotografada passa por processos de revelação ,
lavagens , secagens
e ampliações , onde
o controle de temperatura
e de resíduos nos
produtos químicos ,
são fundamentais
para a boa qualidade
de uma imagem . Muitos
fotógrafos que
tiveram seus filmes
danificados por laboratórios
fotográficos comerciais ,
acabavam arregaçando as mangas e
praticando esta fotografia “química ”.
Se
pensarmos que a fotografia
digital eliminou todos
os processos descritos acima e a imagem
fotografada vai, após ajustes
digitais em
um computador ,
diretamente para
uma impressora comercial ,
porque não
poderíamos falar em
uma gravura digital ? O problema
é que não
teríamos mais diferença
entre uma gravura
com valor
artístico e as artes
gráficas usadas na produção
de jornais , revistas
e panfletos .
No
caso da exposição
Alumínio Digital ,
tentei conversar com
diversos artistas
no dia do vernissage, mas eles fugiam
constrangidos, mostrando que não tinham a mínima
ideia de como foram feitas
as impressões de suas
obras .
Portanto, este evento perdeu uma grande
oportunidade de lançar
o que seria a “gravura
digital ”. Esta nova
técnica poderia
ser marcada por
uma cerimônia , onde
os arquivos digitais
originais usados para
as gravuras , seriam deletados e as chapas de alumínio usadas em
prensas tradicionais de gravação com a
numeração das cópias produzidas. Isto ,
de alguma forma , promoveria uma maior
integração entre
arte e tecnologia ,
ou pelo menos chamaria atenção
para as novidades
em nosso
mundo de imagens .
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