Publicado no Montbläat em outubro de
2007.
Durante
a visita retornamos obrigatoriamente ao nosso
mundo de imagens ,
conversando um pouco
sobre o retoque fotográfico
com suas
implicações na arte
e na credibilidade da fotografia .
O retoque fotográfico
O
mérito destas fotografias
de Marilyn Monroe, a par de documentar um dos ícones dos anos
60, é mostrar que
uma mulher real
pode ser bonita ,
sem necessidade
de cirurgias físicas ou virtuais – através de retoques fotográficos –, sendo
consideradas normais pequenas rugas , ou marcas do tempo , como alguns preferem, em
oposição às mulheres
siliconadas, plastificadas e artificiais
que povoam as revistas
masculinas de moda e glamour .
Na
Figura 3 mostramos um
retrato de família
feito na década
de quarenta por um
filho em
homenagem ao seu
pai falecido. Nesta imagem temos o triunfo
do retoque e da arte fotográfica ,
pois, em certo
sentido, expressa na imagem física
do retratado todos os atributos não materiais que o
filho via em seu pai, como : seriedade ,
honestidade , sabedoria
e determinação , indo além dos limites
ópticos da imagem
original , em
uma forma artística
de registrar as emoções e o conhecimento
que temos de um
ser humano . O processo desta fusão da imagem estática
de uma pessoa com
seus traços de caráter
é mostrado na Figura 4, com a reconstituição
deste “photoshop” analógico através de uma verdadeira arqueologia
fotográfica . Nesta figura ,
à esquerda, temos um negativo de vidro ,
onde o retratado aparece no centro do grupo.
Em um
segundo passo
teve o seu busto
isolado com uma tinta
pintada ao seu
redor .
Esta tinta foi posteriormente removida, como
podemos ver na revelação
digital deste negativo ,
mostrada no centro da figura . À direita desta mesma figura
mostramos o positivo obtido a partir do qual o fotógrafo trabalhou até
chegar à foto
apresentada na Figura 3. Neste processo a visão
artística do fotógrafo
enriqueceu a arte fotográfica .
Desta
história toda
vemos que não
são as técnicas
digitais que
vão abalar a credibilidade da fotografia . O que
assistimos é a reedição daquela velha discussão de que a fotografia
acabaria com a pintura
ou de que
a televisão acabaria com o cinema . As preocupações
com as novas tecnologias levaram, por exemplo , o artista
e fotógrafo David Hockney declarar : posso dizer que o Cristo que se eleva no afresco de
Piero della Francesca é uma prova de sua ressurreição . Se me
perguntarem se acredito mais numa pintura ou numa
foto , direi que ,
sem dúvida ,
é numa pintura . Esta onda
de desconfiança envolveu até museus e revistas
especializadas em fotos
de natureza , com
algumas instituições solicitando aos fotógrafos seus arquivos RAW originais – equivalentes a
um negativo
sem retoques – onde as imagens são
codificadas, sem a intervenção
de qualquer processamento ,
mesmo os ajustes
feitos pela
máquina fotográfica
para exibir a imagem em seu visor (ver The Nature of
Veracity, William Neill - Outdoor
Photographer, dezembro de 2005).
Terminamos
este artigo com uma bela imagem de Marilyn
Monroe, O Mito, do fotógrafo americano Bert Stern, que motivou esta discussão.
Foto 5 - Marilyn Monroe, O Mito, do fotógrafo
americano Bert Stern.
Nota:
(*) Recentemente
foi exigido um laudo farmacológico para a importação do livro de fotografias “Vitamin Ph :
New Perpectives in Photography”, Editora Phaidon, 2006.
Caro Teócrito.
ResponderExcluirGostei muito de receber este texto sobre fotografia e retoque. Por coincidência traduzi o texto do livro sobre a Marylin publicado pela Sextante.
Belo livro, não é? Nele tanto a Marylin quanto Bert Stern concordaram em não eliminar uma cicatriz de operação de vesícula que aparece até na capa.
O recurso de usar muitos véus e transparências foi uma linda solução.
Agradeço com um abraço afetuoso,
Teresa
(enviado por e-mail)
Adorei o link, Teócrito
ResponderExcluirGostei muito das reflexões do texto. E, da velha discussão de que a fotografia acabaria com a pintura, como a televisão acabaria com o cinema. Entendo que toda tecnologia que aparece, toda técnica, todo suporte, assim como as tintas, cada elemento tem a sua soberania e uma não anula a outra. Particularmente acho, por exemplo, que nenhuma outra tinta artística tira a soberania do óleo. A tinta acrílica tem a sua soberania, a aquarela tem a sua soberania, etc. Isso quer dizer, na minha opinião é claro, que o criador deve explorar exatamente essa soberania das linguagem e/ou técnicas e tirar partido disso.
Assim como a velha e antiga discussão de que a televisão acabaria com o cinema. Impossível isso. A televisão tem a sua linguagem e o cinema tem a sua mágica que nenhum "telão doméstico", por melhor que seja, por mais moderno que seja, anula a mágica que é o cinema, com a sua dimensão com seu aglomerado de humano, o lanterninha (mesmo que ainda hoje não os tenhamos mais como antigamente), a pipoca e todo o seu histórico já cristalizado em nosso DNA.
E adorei a reflexão sobre a inversão de imagem do espelho e porque não o de cima refletir o de baixo.. Nunca pensei nisso. Realmente intrigante.
Adorei.
Obrigada.
Abraço,
iara abreu