Para
os antigos gregos, um dos lugares mais remotos seria o mundo infernal, que era
situado no interior da Terra. Sua
entrada era localizada em Cumas, região vulcânica perto do golfo de Nápoles. Para a travessia do mundo dos vivos para o
mundo dos mortos as almas deviam atravessar, na barca de Caronte, o Aqueronte,
um dos cinco rios infernais.
O
Caronte do Amapari.
Foto T.Abritta, 1999.
E
para nós, o que seria o lugar mais remoto deste Mundo? Bem, isto depende da experiência de cada um.
Do ponto de vista
geográfico, eu pensaria como sendo um lugar inabitado e afastado de
qualquer povoação. Neste sentido poderia
ser o ponto localizado na superfície do Oceano Ártico e chamado de Polo Norte de Inacessibilidade com
coordenadas 84·1°N, 174·8°W. Este ponto
fica a 1100 km de qualquer litoral e foi sobrevoado pela primeira vez em 8 de
abril de 1941 por Ivan Cherevichny em um avião da antiga União Soviética.
Mas
para mim, dentro das minhas experiências e sensações de viagem, o ponto mais
remoto do Mundo é a região das nascentes do Rio Amapari, no Estado do Amapá,
devido não só às dificuldades de acesso, como a sensação de penetrar em um
Mundo intocado e na época pouco conhecido.
A
viagem começa em Macapá, onde embarcamos em um trem da Estrada de Ferro do Amapá, que pertencia à antiga companhia
mineradora que explorava manganês na Serra
do Navio. São 220 quilômetros por
florestas, alagados e pequenas povoações ribeirinhas.
O
ponto final da viagem é a Vila de Serra
do Navio, que após o esgotamento das jazidas de manganês, foi cedida aos
antigos operários e a ferrovia entregue ao Estado. Hoje tentam desesperadamente sobreviver no
meio da selva.
A
próxima etapa, para evitar as “varações” – carregar as canoas em trilhas pelas
matas para contornar as cachoeiras do Rio Amapari –, foi uma viagem de algumas
horas pelas ruínas de um pequeno trecho do que seria a BR 210 (Perimetral Norte), felizmente abandonado
e transformado em montes de terra e barro pela ação do tempo.
A
partir daqui, apenas o esplendor da Natureza com o Amapari intocado. E nós sempre guiados por um hábil piloteiro –
aquele que opera o motor de popa –, orientado pelo “proeiro”, que se equilibrando
em pé, através de elegantes gestos, indicava a rota do barco, que ia a grande
velocidade contornando pedras e troncos nas águas.
Assim
adentramos nas terras dos Waiãpi,
felizmente hoje protegidas pelo Parque
Nacional Montanhas do Tucumaque.
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