A cultura visual veio para ficar definitivamente
em nossa
sociedade. Portanto saber
interpretar a comunicação
através das imagens
que nos
bombardeiam é o mesmo que ler um texto . Como
exercício de reflexão, falaremos sobre
velhas fotografias familiares ,
algumas maltratadas e desprezadas em caixas de sapato ou esquecidas em
fundos de gavetas, mas que muito podem
revelar-nos.
Alguns
ficarão surpresos ao saber que
aquela fotografia em
preto e branco ,
com grandes
áreas espelhadas é uma imagem que
resiste ao desaparecimento , com a deterioração da emulsão fotográfica
e a migração da prata – que com sua distribuição
espacial de concentrações
dava os tons de cinza
na fotografia – para
a superfície . Neste processo, chamado “espelhamento”, a imagem vai desaparecendo, mas
sempre guardando alguma informação . E
aquelas fotografias com
uma aparência toda
quebradiça , com
aquele ar
craquelê? Estas são
de uma geração anterior
às modernas emulsões , quando eram usados os papéis albuminados ou feitos artesanalmente com
clara de ovo
salpicada com cristais
fotossensíveis de prata .
A
par da diversidade técnica
que velhas fotos
apresentam e de sua resistência ao desaparecimento , vale a pena indagar quais os motivos que
levaram ao registro de algumas imagens .
Neste
sentido, vamos examinar, por exemplo, a fotografia apresentada na Figura 1,
intitulada “Cavaleiro Velho ”.
No
verso do suporte de papelão ,
onde está colada esta fotografia , existe uma dedicatória ,
escrita a lápis ,
mas ilegível
devido ao escurecimento e oxidação da superfície .
Neste processo
a dedicatória tornou-se visível , tal o sumo de limão
na chama da vela ,
como mostra
a Figura 2.
Esta
fotografia era
uma espécie de “duplo” que o “Cavaleiro
Velho ” deixava para
sua filha ,
já que
estava de partida para
um mundo
incerto, em busca
de melhores condições
de sobrevivência e trabalho
no longínquo estado
do Espírito Santo ,
para onde
migravam milhares de trabalhadores de Minas
Gerais , muitos
nunca mais
voltando, morrendo ou simplesmente desaparecendo nesta nova
fronteira agrícola .
O
episódio nos
remete a um personagem
de Proust (inspirado em sua própria vida ) que
morria de remorsos ao descobrir
que sua
avó, já doente ,
havia se “produzida” toda para
tirar uma bela
fotografia que
seria deixada como lembrança. Este personagem ,
em uma cena
de ciúmes doentio ,
criticou-a severamente pela “criancice ”
e por descobrir
na avó uma vaidade jamais
suspeitada.
- Proust e a Fotografia ,
Brassaï – Jorge Zahar Editor , 2005.
- Retratos
de Família , poesia
de Carlos Drummond de Andrade.
- Encomenda ,
poesia de Cecília Meireles em A Vaga Música .
Nenhum comentário:
Postar um comentário