Muitos
não entenderão a relação entre dor e papelório. Nas primeiras páginas do conto Memória
Intrusa, publicado em Os Meus Papéis,
metaforicamente falo desta relação:
A
pilha de livros, recortes de jornais, artigos e anotações avoluma-se sobre a
mesa. Já começa a “escorrer” e
derramar-se sobre o chão como um rio de papéis.
Naquele canto, livros de Neruda – páginas e mais páginas marcadas com
pedaços de papel. Adiante, obras de
Saramago, ensaios de Susan Sontag e várias edições do conto A Galinha Cega, de
João Alphonsus. No sofá, pastas com
compilações do poema O Guesa e até mapas, bem como obras sobre Geografia e até
fotografias de viagem.
Muita confusão. Tal peregrino de verdades duvidosas,
procurava um rumo entre tanto papelório...
No
decorrer de nossas vidas acumulamos tantos objetos, papéis, livros etc. Muitos sem interesse geral. São mais peças sentimentais, referências de
nossa memória.
Nos últimos anos transformei grande parte deste espólio em crônicas
publicadas em livros e jornais. Mas o
resíduo, tanto digital, como físico ainda é grande. Aos poucos vou rasgando papéis, que mesmo
sabendo da sua inutilidade, causam grande dor. Posso me despedir de apenas alguns por dia.
Ontem
a dor foi maior, pois resolvi pedir o cancelamento do e-mail do meu antigo trabalho
que estava inativo há muito tempo.
Examinei
a caixa de mensagens, pessoas há tanto tempo desaparecidas lá estavam, com suas
palavras, vivas como nunca.
Não
resisti e copiei algumas das mensagens.
Abaixo reproduzo duas delas. Uma
gratificante e outra mostrando a indignidade humana:
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