Proust foi testemunha histórica do
surgimento da fotografia, que logo o encantou.
Assim, passou a colecionar fotografias de amigos, parentes e até de
desconhecidos. As imagens eram guardava
em um álbum, que periodicamente folheava, sendo muitas vezes fonte de
inspiração na descrição de personagens, cenas ou episódios.
Abaixo transcrevo dois trechos de sua
obra “Em busca do tempo perdido”, onde a fotografia está fortemente presente:
“O grande fato que convém tentar
pensar não é que as fotografias...parecem nos fazer crer que ela continua ali,
o grande fato é o contrário: é que ela não está mais” (um personagem refletindo
diante da fotografia de um ente querido já falecido).
“Aquela fotografia era como um
encontro a mais acrescentado aos que já tivera com a Senhora Duquesa de
Guermantes. Melhor ainda, um encontro
prolongado, como se num brusco progresso em nossas relações, ela tivesse parado
junto a mim, deixando pela primeira vez olhar à vontade aquela pinta na face,
aquele maneio de nuca, aquele canto de sobrancelhas, assim como o recatado colo
e braços. Para mim, verdadeira graça. Voluptuosa descoberta. Aquelas linhas que me pareciam quase
proibidas de olhar, poderia estudá-las aqui como num tratado da única geometria
valorosa para mim.”
Desde jovem Proust trocava e
colecionava fotografias. Aos vinte anos de idade recebeu uma fotografia que
muito o marcou. Foi lhe dada por um amigo chamado Aubert, que a título de
dedicatória, escreveu em seu verso um fragmento de um poema de Dante Gabriel
Rossetti:
“Look
in my face; my name is Might-Have-Been;
I
am also called No-more, Too-late, Farewell…”
(Olhem
meu rosto; meu nome é Aquele que Poderia Ter Sido; / chamam-me também Nunca
Mais, Tarde demais. Até logo...)
Pouco
tempo depois Aubert faleceu de apendicite agudo.
Aproveito para acrescentar nestas
notas, minha visão da fotografia como Arte:
“Fotografia é como um poema. Depois de
escrito pertence ao leitor-espectador que cria mil e uma interpretações. Assim,
uma imagem diz o que vemos – na imaginação, ou no frio recorte formado por
cores e formas.
Tal um poema, também reflete a poesia
de imagens imateriais, seus não ditos a serem decodificados pelo Observador.”