Hoje só quero descansar, meditar e admirar. Foi uma longa jornada. Jordânia, verdadeira ilha de progresso,
solidariedade humana e paz encravada neste triste oriente médio.
Da varanda debruçada na árida encosta,
cem metros abaixo, o Mar Morto brilha como nunca. Ao longe, as azuladas montanhas da
Palestina. A sofrida Palestina. Mais de oitocentos mil desenraizados,
injustiçados, escorraçados vivendo tão perto, tão longe de sua pátria.
“Agradeço de coração seus
conhecimentos históricos. Veio do outro
lado do Mundo para nos visitar”. – palavras do jovem que me recepcionou na
chegada ao hotel.
Toda esta região, do Mar Morto até as
margens do Rio Jordão, estava pontilhada de minas explosivas. Hoje, na região de Betânia, verdadeiro
exemplo de respeito religioso: mais de cinquenta templos católicos,
protestantes; ortodoxos gregos, armênios, russos e mesquitas, todos convivendo
na histórica área, cenário de grandes acontecimentos. Por aqui, nas encostas do Mar Morto, dezenas
e dezenas de hotéis integrados na natureza.
Agora só quero meditar e admirar. O sol vai deitando nas montanhas, o céu
amarelando, a luz brilhando no espelho das águas salgadas.
No fundo uma volta aos tempos de
juventude. Uma continuação de minhas velhas
peregrinações arqueológicas: Egito, Grécia, Roma, México, Peru, Ilha da
Páscoa... Inscrições rupestres em desertos, savanas, florestas e praias.
Petra é singular. A bela fachada do templo funerário, com suas
linhas, cantos, planos, tudo preservado da ação de ventos, tempestades de areia
e toda abrasão que vai polindo e transformando essas arquiteturas.
Atravessando a longa fenda, mais de um
quilômetro de percurso, o céu escondido pelas alturas das rochas, a surpresa: primeira
visão da cidade perdida de Petra. Quase
toda destruída por terremotos, mas seus grandes traços poupados.
Surge aos nossos olhos a cidade dos
Nabateus (V. Figura 1).
Figura 1 – Petra.
Foto T.Abritta, 2014.
O sol morrendo nas montanhas, seus
últimos raios atravessando as muralhas de Jerusalém – torres e construções
surgindo tais pequenos desenhos entalhados no topo das alturas emolduradas pelo
amarelo do céu (V. Figura 2).
Sem os recursos do petróleo, sobrevivem
graças a aridez de seus desertos: fosfato, potássio, cimento. Água bombeada de reservatórios subterrâneos,
cata-ventos e células solares produzindo energia. Verdadeiro formigueiro de caminhões levando
mercadorias do porto de Aqaba para o Iraque e outros países. A lembrança de Nasser nas torres e linhas de
transmissão que, da longínqua Assuã, levam energia elétrica para a Síria,
Turquia, chegando até a Grécia.
Figura 2 – Montanhas da Palestina. Foto T.Abritta, 2014.
“Não edificareis casa, não fareis
sementeiras, não plantareis nem possuireis vinha alguma, mas habitareis em
tendas todos os vossos dias, para que vivais muitos dias sobre a terra em que
viveis peregrinando”. Assim observou o
historiador grego Diodorus Siculus (90 AC – 30 AC) sobre o estilo Beduíno de
viver.
Hoje os tempos são outros. Os Beduínos não abrem mão de sua vida nômade
(V. Figura 3), mas fazem questão de seus telefones celulares – carregando suas
baterias com energia obtida de células solares – e de seus modernos camelos, suas
picapes 4x4 com cabine dupla. Mas
continuam criando suas cabras, banqueteando-se com iguarias como galinha,
carneiro e legumes com arroz cozidos durante horas em braseiros enterrados nas
areias dos desertos. A par da
assistência médica oferecida pelo governo, ainda vacinam suas crianças com uma
pasta de ervas e escorpiões macerados.
Por fim, só quero admirar. O sol vai sumindo, a noite caindo. Ao longe, as luzes de Jerusalém brilham no
alto das Montanhas da Palestina.
Descendo o olhar, as luzes de Jericó, cidade mais antiga do mundo.
A abóboda celeste brilhando como
nunca. O intenso luar não consegue
esconder as luzes de Saturno. O vermelho
intenso de Antares, o olho do Escorpião, parece levar-me a uma antiga caravana
navegando pelos desertos, buscando o rumo em sua peregrinação para Meca.
A propósito, Um Ali é um delicioso
doce árabe feito pela Mãe de Ali. Leva pão, leite, açúcar, amêndoas, cardamomo,
canela e outras especiarias, podendo ser servido no café da manhã ou como
sobremesa, com sorvete.
Figura 3 – Beduínos do Deserto. Foto T.Abritta, 2014.